segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Professores e gestores previsíveis e os inovadores


Especialista em mudanças na educação presencial e a distância

Na educação, como em qualquer outro campo profissional, encontramos muitos professores e gestores - provavelmente a maioria - que realizam um bom trabalho, que fazem cursos para avançar na carreira, que procuram se atualizar. Quando observamos com mais atenção, depois de uma primeira etapa de pesquisa e experimentação, costumam aperfeiçoar um modelo básico de ensino ou de gestão, com pequenas variáveis e adaptações à cada situação. Cada vez mais repetem os mesmos métodos, os mesmos procedimentos, permanecem na zona de conforto. São previsíveis. Uns são previsíveis de forma competente, enquanto outros são simplesmente previsíveis.
Junto com os professores e gestores previsíveis encontramos um bom grupo de profissionais acomodados, que estão na educação, porque precisam sobreviver de alguma forma, mas que utilizam todos os subterfúgios para não mudar, para fazer o mínimo indispensável, para ir tocando a vida sem muitos sobressaltos. A educação é um campo propício para acomodações. Na educação pública, o sistema de concursos atrai muitas pessoas que priorizam a segurança, o futuro garantido e se especializam em encontrar atalhos para progredir na carreira, nem sempre com bom desempenho profissional. Alguns estão em contagem regressiva, contando os anos ou meses para a aposentadoria. Muitos destes profissionais são um peso para as instituições, atrasam as mudanças, são contra inovações, desqualificam os jovens que tentam algo novo, chamando-os de idealistas que logo serão cooptados. Alguns estão em cargos de poder e o utilizam para sufocar qualquer tentativa de inovação.
Existem profissionais que têm dificuldades circunstanciais ou permanentes. Circunstanciais, quando atravessam períodos de depressão, ou de problemas pessoais que se refletem na atuação profissional. Mas existem alguns com dificuldades mais profundas, pessoas que se fecham, que não se relacionam bem, que são violentos ou descontrolados por pequenas provocações ou discordâncias. Têm profissionais centrados em si mesmos, que não se colocam na perspectiva dos outros, especificamente dos alunos (estes precisam adaptar-se aos mestres). Existem alguns profissionais com posturas éticas reprováveis, que se valem do seu cargo para conseguir vantagens financeiras, sexuais ou de intimidação psicológica de vários níveis. E muitos permanecem nas instituições durante muitos anos sem serem advertidos ou questionados e atrasam profundamente as mudanças necessárias.
Nas instituições existem, felizmente, profissionais humanistas criativos, inovadores, pró-ativos, que tentam modificar processos, fazer novas experiências, que não se conformam com a mesmice, que estão dispostos sempre a aprender e a avançar. Quanto mais apoio têm, mais rapidamente evoluem e conseguem ajudar a modificar a instituição. Muitas vezes sentem-se em minoria, subaproveitados, marginalizados. É importante saber que os inovadores costumam demorar um pouco para serem reconhecidos, às vezes, anos. Os inovadores pagam um preço pela ousadia. Mas se permanecem na atitude inovadora, se sabem comunicá-la aos demais e se conseguem apoio político, conseguem ser reconhecidos e a obter melhores posições e resultados.
É importante perceber que as pessoas não nascem necessariamente inovadoras ou conservadoras. Pessoas certinhas durante muitos anos, podem sentir-se pressionadas interna ou externamente para mudar e assumem novos posicionamentos e vemos também o contrário: profissionais que são pró-ativos e inovadores durante alguns anos e que depois se desencantam e desistem. Enquanto alguns, na fase adulta e na velhice, seguem evoluindo e inovando, outros, parece que se encolhem, que desanimam, que não acreditam mais e se fecham, refluem, se desmotivam. É um mistério como pessoas que tiveram as mesmas oportunidades profissionais, que fizeram carreiras iguais, assumem ao longo da vida posturas tão diferentes e com resultados de realização pessoal e profissional tão antagônicos.
Hoje precisamos urgentemente de muitos profissionais humanistas inovadores, que tragam contribuições, motivação e esperança, com os que possamos contar para novos projetos e desafios. Estamos numa fase de grandes mudanças e não podemos demorar demais para aprender a implementá-las. Por isso é tão importante investir em uma educação humanista, de qualidade, que valorize os inovadores e os criativos.
Texto complementar do meu livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, da Editora Papirus


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2 comentários:

  1. Diante do exposto vale ressaltar que a construção da identidade de um grupo e da educação se dá na vivência, constituem-se em grupos homogêneos, na heterogeneidade, nas diferenças e nos conflitos para que se construa um grupo dessa natureza é preciso intervenção: um gestor mediador que encaminhe o trabalho, sendo este em parceria. Um gestor com autoridade legitimada nos objetivos e compromissos e ações realizadas. Um gestor que saiba ouvir e saiba apontar caminhos. Os grupos estão presentes em nossa vida e no dia a dia da gestão e os diferentes conflitos nos levam a apropriações ( não é processo fácil, mas necessário). É nesse movimento que se dá a construção de muitos saberes. As vivências cotidianas fazem parte da prática educativa e se mostram como conteúdos nas práticas de gestionar. É preciso ter muito organizada a rotina Pois rotina é ritmo, e ritmo significa organizar a vida. Por aqui existem muitos ritmos e é preciso atenção as diversidades e diferenças para respeitá-las. Tendo sempre o olhar de transformação positiva, levando em consideração todas às dimensões pertinentes a educação, mas elencando como foco o aspecto pedagógico.

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  2. Moran foi muito real ao escrever este texto, revelando o contexto atual da educação em relação a gestão e nos reportando para uma reflexão mais profunda acerca da atuação dos professores. Quando temos a oportunidade de observar o trabalho educacional tendo como ponto de observação a Secretaria de Educação, vemos exatamente o que ele relata em seu texto. Eis ai o grande desafio a ser superado: transformar o olhar e a prática de profissionais acomodados, desanimados, desumanos, desinteressados, intransigentes e por vezes incapazes de conviver em grupo em práticas criativas e eficientes. Acredito ser possível ocasionar tais mudanças.
    Mudanças ocorrem primeiramente do reconhecimento da falha e do desejo de mudar. Assim, partindo do princípio de que somos seres historicamente construídos e que temos capacidade de reflexão, se faz necessário apontar perfis, levantar dados, proporcionar momentos de estudos e capacitação para que cada um possa reconhecer-se e compreender suas limitações e necessidades. Certamente uma equipe de trabalho coesa e ética,poderá obter grandes resultados, através do reforço positivo das boas atitudes e ações inovadoras, provocando em todos motivação para superação de seus limites. Esta não é uma tarefa fácil, haja visto a grande resistência a mudança dos profissionais, que a meu ver vem camuflada de medo,insegurança e as vezes até de "preguiça" (de ler,planejar,disponibilizar-se e estabelecer rotina). Por certo, concretizar mudança de olhar, ação transformadora e criativa, leva tempo; para alguns bastam dias, para outros bastam meses, a outros se faz necessário anos e para alguns uma vida toda. Considerando a rapidez com que a sociedade e o mundo se modificam e se transformam; para o sucesso da aprendizagem e alcance da qualidade educacional, sinceramente espero e almejo que o grupo daqueles que levam a vida toda para mudar não mais permaneçam na educação e procurem uma profissão que lhes fará feliz.
    A educação grita por seres humanos responsáveis, dedicados, criativos, estudiosos e disponíveis, que respeitem, amem e realizem-se com esta profissão tão importante que escolheram.

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