by Luciane Simonetti |
Há um tempo que eu havia comentado sobre essa síndrome com alguém que jamais ouvira falar dela. Tempos depois, comentei novamente sobre o assunto com outra pessoa e novamente relatou desconhecimento sobre o assunto.
Fiquei preocupada por perceber que havia certo interesse sobre o tema, mas que, no entanto, pouco se fala sobre ele. Desde então, senti necessidade de fazer um texto explicando como se desenvolve essa síndrome.
A causa da Síndrome de Kosakoff (daqui para frente, irei usa a abreviação SK) se deve a uma deficiência na metabolização de tiamina (vitamina B1) que é resultado do uso crônico e quantidade elevada de álcool. Este problema de metabolização da tiamina leva a morte celular em uma região mediana do cérebro, chamada diencéfalo, região em que se encontram estruturas relacionadas à memória.
Já se pode imaginar então que o principal sintoma associado à SK é a amnésia retrógrada e anterógrada. Isto significa que pessoas com essa síndrome pouco se lembram de eventos do passado, apenas aqueles mais remotos, ou seja, da sua infância. Também estão prejudicados quanto à capacidade de reter novas informações.
O mais assustador desta síndrome é que seu prognóstico não é nada animador. Em raros casos, quando a SK é detectada em estágio menos grave, o que nem sempre acontece, pacientes que aderem a uma dieta rica em vitamina B1 acabam tendo uma boa recuperação após algum tempo. No entanto, após o diagnóstico não é mais possível reverter o quadro, pois essa síndrome é degenerativa. Ou seja, é possível tratá-la, mas não curá-la.
A SK pode tanto ter início insidioso (quando a doença se instala lenta e discretamente), como abrupto. Isto depende de características específicas de cada indivíduo, como as genéticas e as biológicas.
Além da amnésia acentuada, uma característica muito marcante da síndrome é que os pacientes costumam confabular, isto é, inventar histórias sobre acontecimentos passados por vergonha de admitirem que não se lembram. Também é bastante comum observar que estes indivíduos não costumam assumir que possuem um problema de memória e tentam sobrepujar sugestões de pessoas próximas de que adquiriram uma doença.
O que mais me assusta é que as pessoas estão fazendo uso cada vez mais cedo e desenfreado do álcool, o que a longo prazo pode levar não somente ao alcoolismo, mas também a consequências incapacitantes como a SK, gerando sofrimento às pessoas de convívio próximo.
Para as pessoas que têm um interesse particular em compreender quais são os efeitos do álcool no cérebro, compartilho uma animação que irá mostrar os mecanismos de ação desta substância em nível neuronal e funcional. Basta clicar aqui (http://learn.genetics.utah. edu/units/addiction/drugs/ mouse.cfm) e aproveitar. Clique no botão “play” e escolha o ratinho. Aproveitem também para olhar as outras opções, cujas animações mostram os efeitos de algumas drogas no cérebro como a cocaína, o LSD, a maconha, o ecstasy, a heroína, a metanfetamina e a nicotina.
Estarei à disposição para eventuais dúvidas aos que não tem tanto contato com essa área e também àqueles que queiram conversar sobre o tema.
Espero que gostem.