Lecionei
no ginásio durante dez anos. No decorrer desse tempo, dei tarefas a, entre
outros, um assassino, um evangelista, um pugilista e um imbecil.
O assassino era um menino tranqüilo
que se sentava no banco da frente e me olhava com seus olhos azuis-claros; o
evangelista era o menino mais popular da escola, liderava as brincadeiras dos
jovens; o pugilista ficava perto da janela e, de vez em quando, soltava uma
risada rouca que espantava até os gerânios; o ladrão era um jovem alegre com
uma canção nos lábios; e o imbecil um animalzinho de olhos mansos, que
procurava as sombras.
O assassino espera a morte na
penitenciária do Estado; o evangelista, há um ano, jaz sepultado no cemitério
da aldeia; o ladrão, se ficar na ponta dos pés, pode ver minha casa da janela
da cadeia municipal; e o pequeno imbecil, de olhos mansos de outrora, bate a
cabeça contra a parede acolchoada do asilo estadual.
Todos esses alunos outrora se
sentaram em minha sala, e me olharam gravemente por cima de mesas marrons. Eu
devo ter sido muito útil, para esses alunos: ensinei-lhes o plano rítmico do soneto
elisabetano, e como diagramar uma sentença complexa”[1].
[1] In
PULLIAS, Earl & YOUNG James D. A arte
do magistério, tradução e publicação da Editora Zahar, Rio de Janeiro,
1972.
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